Por: Robert Brooks
Tinha levado tanto tempo para construir, para aperfeiçoar. Agora estava pronto.
Orlana ia na frente em direção à ponte da nave, tão empolgada que chegou a descer ao chão, usando as próprias pernas para caminhar. Ela já não tocava o solo desde o desastre com as naves-mãe há muitos séculos. "Incrível", murmurava. Seus sentimentos ecoavam os de suas irmãs. Ela fez um gesto com os braços acima da cabeça, como se dissesse "olhem só para isso".
Era a primeira desse tipo. A primeira arca sideral.
"Que legado nós vamos deixar", disse Shantira, suavemente.
O nome evocava os dias do passado, quando os Primogênitos primitivos ainda trabalhavam com as mãos, arando o solo e caçando. Os que tinham navegado nos oceanos de Aiur há milênios tinham aprendido a respeitar os ventos e as ondas. As coisas podiam mudar em minutos, e barcos pequenos não se saíam bem nas tempestades. Aquelas tribos tinham construído navios maiores — arcas —, abrigos flutuantes para onde todos podiam fugir quando os ventos fortes soprassem.
E assim será novamente, pensou Rohana. Com aquele novo tipo de arca, os protoss não precisariam mais temer os ventos sombrios. Nunca mais. Não só por causa dos armamentos de que a nave dispunha, que eram muitos, nem pelos avanços tecnológicos, que eram inéditos…
Uma arca sideral com a tripulação completa podia lutar guerras sem apoio. Podia evacuar uma colônia inteira — um sistema inteiro cheio de colônias e postos avançados — graças a seus vastos salões repletos de cápsulas de estase. A nave podia perder força e ficar à deriva por séculos, e ainda assim manteria a tripulação viva por todo o tempo. A arca sideral tinha dezenas de quilômetros de comprimento e de largura, mas ainda assim era ágil e respondia rapidamente aos comandos. Podia manufaturar um esquadrão de batedores por dia, coordenar uma batalha sem fim no espaço e transdobrar os civis para um local seguro ao mesmo tempo. Todo sistema tinha redundâncias. A arca sideral tinha sido concebida e projetada como uma solução — a solução — para qualquer desastre ou guerra imaginável. O Conclave percebera a sabedoria daquela solução e concentrara toda a ambição do império dos Primogênitos em sua realização.
A felicidade pura de Orlana aumentava, pulsando através do Khala. Ela sempre amara arquitetura especialmente. "Você estava certa, Rohana" disse ela. "As paredes. Eu achei que elas atrapalhariam. Mas olhe!" Ali na ponte, as paredes eram feitas de pura energia esculpida. Invisíveis. O comandante da nave teria uma visão desobstruída do campo de batalha. Ao redor delas, era possível ver as luzes de Aiur indo até o horizonte, e as estrelas brilhando acima de suas cabeças. "É maravilhoso."
Quantas batalhas perdidas na história não teriam sido vencidas se o comandante tivesse conhecimento completo, em primeira mão, do campo de batalha? Quase todas, certamente. Comandantes sábios confirmam com os olhos o que seus subordinados acreditam. O Khala só transmitia as emoções. Um guerreiro inexperiente podia julgar a batalha de modo errôneo. "O crédito é de nossa irmã mais nova, não meu", disse Rohana. "Sem ela, os moduladores jamais teriam completado isso."
Rohana sentiu as emoções serenas de Shantira. Orgulho. Satisfação. A tecnologia que tornara possível a arca sideral era fruto de seus esforços. Os operários Khalai entendiam de engenharia mais do que Shantira, mas ela tinha a memória de gerações de mestres para guiá-los e um entendimento absoluto de física para desafiar suas ideias. Para conseguir, eles passaram por ela. E ela os fez merecer sua glória.
Um membro do Conclave se aproximou das três irmãs, um judicante chamado Mardonis. "Vocês se unirão a nós lá embaixo para o lançamento?", perguntou ele.
"É claro", respondeu Rohana. Era um momento histórico. As grandes preservadoras tinham o dever de testemunhá-lo.
Mardonis as levou da ponte até as profundezas da arca sideral, guiando-as por todo o caminho. Depois de muitos quilômetros de corredores, eles chegaram ao núcleo, onde ficavam apenas alguns painéis de controle e uma esfera enorme no alto. Mesmo ali, no centro da nave, era possível ver as estrelas brilhando acima de Aiur. Mas aquelas estrelas não tinham interesse algum para as grã-preservadoras, para Mardonis, nem para o resto do Conclave, os moduladores e o único guerreiro que estava entre eles.
Aquelas estrelas estavam bem longe dali.
Uma nova estrela nasceria bem mais perto, entre eles.
Mardonis fez um gesto para o guerreiro. "Adun, poderia fazer as honras, por favor?"
Adun bateu com o punho no peito. "Obrigado, judicante." O guerreiro foi até os moduladores. Um deles lhe entregou um bloco retorcido de solarita. Os olhos de Rohana se apertaram. Eles estavam manuseando aquela substância volátil casualmente demais; ela se lembrava de dezenas de instâncias em que esse tipo de coisa tinha terminado em desastre.
Nada menos que dezoito naves espaciais tinham sido destruídas devido a explosões de solarita... Uma aldeia inteira tinha queimado até o chão oito séculos antes...
Shantira tocou seu ombro. Rohana afastou sua mão e sua tentativa de confortá-la através do Khala. "Isso é bobagem", Rohana disse a ela, calmamente.
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