terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Em Chamas Tudo Terminará - Parte II

Por: Robert Brooks
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As três irmãs usaram de todas as forças para não se unirem aos outros. Rohana tremia com o esforço. Aquele dia seria lembrado por milênios. Não havia nada de mais belo e puro que o último rugido de um Primogênito. Ouvir o império inteiro rugindo como uma só pessoa...

A última vez fora há oitocentos anos, na batalha final em Khardalas, e antes disso, dois séculos antes, na emboscada em Faranai…

Não. Haveria tempo bastante para analisar tudo depois. Oito mil, quatrocentos e sessenta e três protoss estavam prestes a morrer. Suas memórias tinham que ser salvas. Ao fazer isso, as grãs-preservadores experimentariam as mortes deles. De cada um deles.

"Isso não será fácil", comentou Orlana.



Rohana fechou os olhos. Orlana é a rainha do eufemismo. Gerações tinham se passado desde a última perda de vidas em massa, e na época as preservadoras só conseguiram salvar uma porção das memórias dos falecidos. Aquilo não aconteceria hoje. Mas o peso da tarefa seria insuportável.

Uma dessas memórias preservadas chamou sua atenção. Havia uma antiga tribo que suportara incontáveis tempestades nas montanhas de Aiur. Seus membros tinham aprendido a sobreviver aos tufões nos platôs expostos, com ventos tão fortes que chegavam a desarraigar as árvores. Havia muito a aprender ali. "Curve-se ao vento. Deixe que ele passe sobre você e ao seu redor", disse Rohana, citando um chefe de tribo falando com seus seguidores. Não só as palavras dela mas as dele viajaram pelo Khala até a mente das outras grãs-preservadoras. "Não deixe o vento quebrar você."

Rohana sentiu a mudança nas irmãs. Elas seguiriam seu aviso.

As grã-preservadoras flutuavam em círculo um metro acima do chão, com as pernas cruzadas, sustidas suavemente por seu poder psiônico. Elas se deram as mãos. Abriram suas mentes aos oito mil, quatrocentos e sessenta e três indivíduos e tentaram isolar todos os demais. Isso seria impossível, claro.

Orlana apertou forte as mãos das irmãs. "Lá se vão eles", disse ela.

As tripulações começaram a morrer.

Os moduladores, expostos mais diretamente à radiação da estrela de nêutrons, morreram primeiro. Não foi um fim rápido. Mas eles lutaram contra a dor, emprestando suas mentes à canção do Khala tanto quanto puderam até a morte finalmente lhes conceder alívio. O conhecimento técnico dos moduladores, sua perícia, cada batida de coração da primeira à última, tudo passou para Rohana, Orlana e Shantira.

Preservado para todo o sempre.

Os outros membros da tripulação não duraram muito mais. E estavam partindo todos ao mesmo tempo em ambas as naves. A força de suas memórias desabou feito um vagalhão sobre as três irmãs.

Rohana sentiu a mente sendo sacudida pela tempestade. Não lutou contra a sensação. Suor porejava e escorria por suas costas. Sempre que uma das irmãs perdia o foco, as outras duas a ancoravam até ela se recuperar. Vidas inteiras passaram pela mente de Rohana. Ela se agarrou a todas enquanto a canção de glória do Khala e a agonia de milhares de mortes a sacudiam de um lado a outro.

Mas ela se curvou ao vento. Ela não quebrou. Nem suas irmãs.

Este aqui viveu em Aiur a vida inteira… Este aqui superara um ferimento incapacitante no planeta Zhakul e escapara de uma erupção vulcânica… Esta aqui tinha construído uma nova matriz para lançamento de transportadora, e estava começando a trabalhar em uma expansão da rede de transdobra…

O fogo acabou com os vivos em um instante explosivo.

E cada alma — sim, cada uma delas — tinha sido preservada.

Tinha acabado. O alívio sobreveio às irmãs como um golpe físico. Orlana caiu para trás e seus pés bateram forte no chão. Rohana e Shantira não a largaram, e ela não desabou completamente. Pouco depois, já tinha se recuperado e seus pés se levantaram no ar outra vez.

"Obrigada", disse Orlana.

A canção do Khala continuou. O império tinha sentido a aceitação das tripulações. Só Orlana, Rohana e Shantira tinham vivido as oito mil, quatrocentos e sessenta e três mortes. Mesmo os tripulantes só tinham morrido uma vez.

As irmãs ficaram ali, juntas, até que a dor passasse. Levou bastante tempo.

"Eles foram queimaram vivos", disse Rohana. Ela estava chorando. Todas estavam.

Orlan apertou sua mão. "Eu sei."

"Não é assim que um Primogênito deve morrer."

"Não." Shantira estremeceu.

"Nós temos as memórias deles. Haverá muito a aprender com elas." Rohana hesitou. Elas teriam que reviver aquelas mortes repetidas vezes. Mas era o seu dever. Ela não o evitaria. "Esta tragédia não nasceu da malícia ou estupidez, mas do acaso. Essa é a nossa nova tarefa, irmãs. Nós vamos dizer ao império como impedir que isso aconteça novamente."

"A falha nas naves-mãe será consertada. Não precisam de nós para isso", disse Shantira.

"Não, não precisam. Não para isso", disse Rohana.

Orlana piscou. Ela compreendeu a intenção de Rohana. "Uma falha ignorada causou um evento colossal. Você quer encontrar uma solução para todas as falhas ignoradas."

"Da próxima vez podem não ser duas naves perecendo por causa de um desastre imprevisto", disse Rohana. "Hoje nós perdemos exploradores. Da próxima vez podemos perder uma colônia inteira. Ou uma frota de guerra. Imagine o que poderia acontecer. Até Aiur poderia perecer."

"Isso nunca vai acontecer", disse Orlana.

"Mas você entende qual é minha ambição."

Shantira começava a entender, embora ainda hesitasse. "É impossível dar conta de todos os desastres em potencial", disse, cautelosa. "Todo progresso gera erros. Às vezes vidas são perdidas. Isso é lamentável, mas é esperado. Se nós cercearmos a inovação por medo do que pode acontecer, o resultado será a estagnação."

"Não estou sugerindo que podemos impedir cada morte. Eu estou dizendo que cada morte é uma lição. Não só as de hoje. Todas elas. Nós temos as memórias de todo Primogênito que já viveu desde o final da Era do Conflito até aqui", disse Rohana. "Nós vamos encontrar padrões. Vamos encontrar pontos cegos nessas vidas passadas e nas nossas. Vamos encarar o futuro de olhos abertos; vamos descobrir o que torna nosso império vulnerável, e corrigir isso."

A hesitação das irmãs desapareceu. Novas emoções apareceram. Emoções complexas imbuídas de determinação. Todas pulsavam com a agonia da tragédia daquele dia. Uma dor assim não podia ser tolerada, simplesmente. Ela as impelia a agir.

"Nós vamos", disse Orlana.

Shantira estacou. "Tratar o acaso como inimigo. Isso nunca foi feito. Nunca em toda nossa história." Seu humor mudou, e ela pareceu feliz, mas de um jeito austero. "Que legado iremos deixar se derrotarmos esse inimigo, não é mesmo?"

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