sábado, 24 de dezembro de 2016

Grito Infernal - Parte IV

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Grommash acendeu uma pequena tocha em sua tenda e sentou-se no chão, gesticulando para Garrosh fazer o mesmo. A luz tênue bruxuleava pelas paredes feitas de pele grossa de feras, que se enfunavam com a brisa fria da noite.

Garrosh se abaixou lentamente até o chão. A dor da luta duraria por dias, mas não havia indício de nenhum ferimento mais sério. — Eu tinha uma vantagem no fosso — disse ele. A voz dele estava calma e não transparecia nada.



— Pode dizer — disse Grommash.

— Surpresa. — Garrosh repousou as mãos nos joelhos. — Eles acharam que eu estava acabado na hora em que eu caí.

O chefe do clã grunhiu. — Você ensinou a eles algo que já deviam ter aprendido. O inimigo não está morto até morrer.

— Uma lição que você compartilhou com seus inimigos, pelo que eu sei — disse Garrosh. "Grommash Grito Infernal... o orc com a vontade de ferro... meu pai."Ele teve que se esforçar para não sorrir. — Eu estou curioso. O Mak'Rohgan. Não sei de nenhum outro clã que o pratica.

— O quanto você sabe sobre mim, estranho?
— Sei um pouco — foi a resposta cautelosa de Garrosh

Um odre de vinho jazia à esquerda de Grommash. Ele ofereceu a Garrosh, que recusou. O chefe tomou um longo trago e então falou: — O Brado Guerreiro já sofreu em tempos difíceis. Um ataque de ogros quase nos eliminou.

Garrosh conhecia essa história. A morte de sua mãe, o renascimento do clã Brado Guerreiro, o começo da lenda de Grito Infernal. — Foi quando você perdeu sua companheira, não foi? É difícil quando a família morre em combate.

— Nós não falaremos dela — disse Grommash, com ferro na voz.

Sua raiva era chocante. Garrosh hesitou. — Eu ouvi dizer que Golka morreu lutando, matando vários ogros antes de tombar — disse ele.

— Meu clã demonstrou fraqueza naquele dia. Eles ficaram para trás — grunhiu Grommash. — Eu tive que mostrar aos membros do clã como encarar a morte. Com sangue nas mãos e a garganta do inimigo entre os dentes! — Ele arremessou o odre vazio para longe. — O Mak'Rohgan expurga do meu clã a culpa daquele dia. Todos os que querem se chamar Brado Guerreiro têm que passar pelo desafio.

Garrosh não sabia o que dizer. Pelo jeito havia mais naquela história do que ele ouvira quando criança. — Mas sua companheira, ela...

— Eu disse que nós não falaremos dela.

"O que isso significa?",pensou Garrosh. Uma morte honrada devia ser celebrada, mesmo que se tratasse de uma batalha perdida. "A menos que..."

Lembranças da infância de Garrosh retornaram. Dia após dia ele vivera com a culpa e a vergonha de ter um nome que ele considerava amaldiçoado.

— Eu entendo como você se sente. — Garrosh escolheu as palavras com cuidado. — Meu pai morreu com o machado enterrado no peito do inimigo. Uma boa morte. Mas o caminho que o levou até lá foi coberto de desonra... tudo por causa de uma única decisão errada. Por muito tempo eu vivi com raiva do meu pai. Foi raiva desperdiçada. O momento de fraqueza do seu clã e da sua companheira ainda podem machucar, mas o filho que ela lhe deu...

— Meu filho? Ela nunca me deu um filho.

Grommash olhava nos olhos de Garrosh, perscrutando e julgando. Garrosh sequer piscava. — Eu não sabia disso — foi tudo o que ele disse.

"Kairoz". Garrosh sentiu um músculo do rosto tensionar. "Contar as folhas de grama". Ele passou um instante rememorando o prazer que sentira ao perfurar o torso do dragão, sentindo o sangue quente de Kairoz banhando suas mãos. Aquilo o acalmou. Ele respirou fundo. Eu não nasci nesse mundo. Grommash nunca foi pai aqui. Foi isso o que o dragão de bronze quis dizer com "linha do tempo perfeita"?

Garrosh se preparou mentalmente. "É hora de dizer a ele por que eu vim".— Mas eu pergunto, chefe Grito Infernal...

***

— … se você pudesse voltar e salvá-la, você o faria, não? Eu faria. Meu pai tinha o coração honrado. Ele foi enganado e merecia um legado melhor. Talvez Golka mereça também.

"… não vê que é tarde demais? Acabe com isso!"

Legado. Grommash fez uma careta. — As palavras são vento. A menos que você possa me levar de volta, eu não vou mais falar dela. "Golka". Ele não se permitira mencionar o nome dela em muito tempo. Como o estranho conhecia o nome dela?
O estranho levou as mãos às costas. — Eu não posso fazer você voltar, mas posso ajudá-lo a olhar para diante. — Ele exibiu uma trouxa de pano e a desenrolou. Um estilhaço de vidro com bordas afiadas apareceu. Garrosh o depôs entre ele e o chefe. — É com isso que você vai evitar cometer um erro imperdoável.

Grommash não tocou no objeto. — Você estava com isso o tempo todo?
— Sim, chefe Grito Infernal.

O fio do estilhaço podia matar, nas mãos de um orc motivado. "E você não o usou mesmo com quatro orcs tentando matar você a chutes" Poucos teriam tal autocontrole. — O que é isso?
O estranho sorriu. — Um amigo chamou de... vislumbre do tempo. Ele achou que isso era afiado demais, e por isso eu peguei pra mim. — Ele bateu com o nó dos dedos na peça. O som era quase musical. — Isso vai confirmar minhas palavras.

— Então fale.

— Deixe eu falar sobre uma coisa. Armas. — Os olhos do estranho brilharam.

Grommash escutou. O estranho falou de bombas de mana, energia mágica concentrada explosivamente. Criaturas chamadas "feiticeiros", experientes com tal poder, podiam explorar e refinar essa energia e usá-la para eliminar clãs inteiros em um instante.

— Essa arma existe — disse o estranho.

Ele continuou, descrevendo armas inacreditáveis. Dispositivos de metal e fogo que quebravam rochas, lâminas giratórias enormes, capazes de estraçalhar um inimigo ao menor toque, armas de cerco que podiam ser usadas em terra ou no mar. — Essas armas existem.

— Eu nunca as vi — retorquiu Grommash.

— Ainda não — disse o estranho. — Mas eu posso ensinar como construí-las, como usá-las, como os inimigos podem tentar combatê-las. Mas o Brado Guerreiro não pode construí-las sozinho. Você precisará de outros clãs, de seus recursos e habilidades.

Os olhos de Grommash se estreitaram. — Então eu prefiro não usá-las. Por que eu iria dar aos outros clãs o poder de dizimar o meu povo em um único ataque traiçoeiro? "Unir o Brado Guerreiro a outros clãs vai acabar mal para todos nós".Ele fez um gesto para além das tendas. — Nós temos as partes mais férteis de Nagrand, temos comida, abrigo e caça por anos. Nenhum clã tem coragem de nos desafiar. Eles sabem que vão pagar caro.

— Então é assim que o Brado Guerreiro vive? Complacente e satisfeito com o que têm? Sem almejar mais nada? — A boca do estranho se torceu em um sorriso incipiente.

As palavras doeram, mas Grommash não demonstrou raiva. Se as frequentes disputas no mak'rogahn provavam algo, é que o seu povo estava longe de andar satisfeito. Era estranho que o forasteiro se apercebesse disso. Grommash disse: — "Querer mais"é muito diferente de precisar dessas suas armas impossíveis.

"...me dê a morte de guerreiro que eu mereço..."

Grommash ignorou a voz dela. Por que o estranho o fazia se lembrar dela? A lembrança apenas o fazia pensar na vergonha do clã, mas ele não conseguia esquecer.

— É verdade. Mas você não precisa temer os outros clãs. Eles não vão trair você, Grito Infernal. — A luz da tocha refletiu-se nos olhos do estranho. — Vocês usariam essas armas contra um inimigo comum.

— Quem? — A resposta era óbvia e ele riu. — Os draenei? Você é um dos discípulos de Gul'dan? Ele é quem vive falando disso. — Gul'dan entrara em contato com Grito Infernal, discretamente, e provavelmente também com outros chefes de clã, insinuando ter encontrado uma nova fonte de poder que eclipsava as artes xamânicas. Esse poder, dizia Gul'dan, poderia se provar crucial para derrotar os draenei. Grommash ainda não tinha se convencido de que aquelas criaturas de pele azul eram perigosas, mas as visões de Gul'dan certamente eram inquietantes. — Esse é o poder secreto dele, estranho? você está construindo essas armas a mando dele?
— Não, chefe Grito Infernal. Eu nunca encontrei Gul'dan...

***

... mas minhas armas irão impedi-lo — disse Garrosh, abrupto.

As chamas crepitavam na tocha. Nenhum outro som pairava na tenda a não ser o suave rumor da brisa. Garrosh via a desconfiança no olhar do pai. Desconfiava, não de Gul'dan, mas de Garrosh.

— Impedir Gul'dan. De fazer o quê?
— De convencer você e todos os outros orcs a se tornarem escravos — disse Garrosh. — Gul'dan vai começar uma guerra que os orcs não podem vencer sozinhos. Ele reunirá os clãs e lhes oferecerá um presente, um presente que deveria garantir a vitória. Mas nesse dia...

— Que presente? — interrompeu Grommash.

Era perigoso ignorar um chefe de clã, mas Garrosh continuou falando. A raiva que sentia de Gul'dan transparecia em suas palavras. — Mas nesse dia,chefe Grito Infernal, você será o primeiro a aceitar esse presente, não por ser fraco, mas por não querer que nenhum outro orc assuma tal risco. — Os olhos de Garrosh tremeram e sua voz agora era pouco mais que um sussurro. — Esse presente fará você perder tudo. Seus pensamentos, sua mente, sua vontade, tudo será reduzido a uma peça nas mãos dos seus novos mestres desconhecidos. Meu pai foi enganado assim. Eu vim para cá para me certificar de que o mesmo não aconteça com você.

O pai de Garrosh ergueu uma sobrancelha. — Se o que você diz é verdade — respondeu Grommash, evidentemente duvidando de tudo aquilo — então não precisamos de suas novas armas. As velhas ainda podem furar o coração de Gul'dan e dar fim a ele.

"Um fim melhor do que o traidor merece".— Gul'dan é uma marionete. Mate-o e os mestres dele encontrarão outro vassalo, talvez daqui a algumas gerações, quando eu e você e todos os que se lembrarem dele já tiverem morrido — disse Garrosh. — Eles não se esquecem, e são pacientes quando precisam. Não. Não daremos a eles a chance de se reagruparem. Nós vamos atrai-los, revelá-los pelo que são e então vamos esmagá-los.

Grommash suspirou longamente. — Você fala de perigos impossíveis, estranho. Então eu estou destinado a ser enganado por um inimigo desconhecido, que vai me oferecer um poder que eu não posso imaginar, e a única maneira de evitar isso é usando armas que eu nunca vi? — Ele sacudiu a cabeça. — As palavras são vento. Como você vai provar isso? Com esse estilhaço? — Ele acenou com a cabeça para o estranho pedaço de vidro recurvo diante deles.

Garrosh aquiesceu. — Sim, chefe Grito Infernal.

— Como?
Garrosh também tinha se perguntado o mesmo. Na verdade, tudo o que ele tinha era uma intuição. mas era uma boa intuição. Enquanto crescia em um Draenor em ruínas, esfacelado, ele frequentemente visitara um local sagrado, implorando aos espíritos por respostas e orientação. Por muitos anos eles não tinham respondido.

Então Thrall aparecera, e os espíritos mostraram a Garrosh como seu pai tinha se redimido no final. Aquele momento o colocara em um novo caminho.

— Eu quero levar o estilhaço para as Pedras da Profecia — disse Garrosh. — Meu próprio destino foi mudado pelos espíritos de Nagrand. Eu acredito que o seu também será.

***

Grommash coçou o queixo. As Pedras da Profecia

Muitos xamãs de clãs diferentes tinham feito peregrinações até as altas pedras, mas poucos recebiam respostas dos espíritos que ali habitavam. “Só aqueles com relâmpago no coração recebem orientação das tempestades do destino", dizia o antigo ditado. Grommash conhecera o sábio e velho xamã que vigiava o local das pedras, mas nunca quisera conhecer o monumento. Ele não era como o chefe do clã Olhos Sangrentos, que se mutilava para obter um vislumbre do destino. Ele preferia acreditar que seu destino estava em suas próprias mãos.

E no entanto o estranho dizia que os espíritos o tinham orientado. "Interessante".— Você é um xamã? — perguntou Grommash.

— Não.

— Você comunga com os elementos? — insistiu ele.

— Não, chefe Grito Infernal, mas eu acredito que eles irão ajudar você — disse o estranho.

— Por quê?.

— O destino de todos que vivem neste mundo repousa em seus ombros. Não só o dos orcs. Os elementos responderão à nossa necessidade.

— E se não responderem? — perguntou Grommash.

O estranho não hesitou. — Arranque minha cabeça. Se isso acontecer, eu não vou precisar dela.

Grommash ergueu Uivo Sangrento e outra vez encostou seu fio ao pescoço do estranho. Os olhos de Garrosh encontraram os dele, sem piscar. — É um preço perigoso, estranho — disse Grommash.

— Lok-tar ogar. Se eu não puder convencer você, então eu falhei.

Grommash abaixou o machado. Por alguns instantes pareceu imerso em pensamentos. O estranho era uma incógnita. Um vendaval de perguntas soprava na mente de Grommash, mas ele não falou nada. As perguntas podiam esperar.

O que era realmente importante?
O destino? Escravidão? Honra? Força de vontade?
Fraqueza.

"… não vê que é tarde demais? Acabe com isso!"

Grommash fechou os olhos. Fraqueza. Essa era a chave. Esse estranho, forte o bastante para derrotar quatro orcs do Brado Guerreiro amarrado, o que lutara como se tivesse o coração de um Grito Infernal, estava avisando Grommash sobre a fraqueza, e ele dizia que podia provar a verdade de suas palavras. Ele apostava a própria vida nisso.

Ele podia tolerar o estranho um pouco mais, para saber a verdade. O Brado Guerreiro não sucumbiria à fraqueza novamente.

"Um coração do Brado Guerreiro não significa nada se o cérebro for de ogro", dissera Grommash. Grommash aprendera aquela lição do pior jeito. Ele se esforçara tanto para provar que tinha força de vontade que acabara entrando em uma luta que não podia vencer. Um inimigo desconhecido estivera esperando — não, estivera contando com — seu descuido.

"... É o meu fim..."

Grommash abriu os olhos e sorriu. — Nós iremos juntos às Pedras da Profecia, estranho, e eu vou cobrar seu juramento — disse ele.

O outro orc pareceu satisfeito. — Fico feliz.

O chefe olhou para os machucados e inchaços que cobriam o corpo do orc. — Você tem forças para ir?
— Sim.

Grommash se ergueu. Ele olhou para fora da tenda e viu a primeira luz da aurora acima do horizonte. — As pedras não ficam muito longe, e temos muito o que conversar. Se esse perigo for real, como eu posso convencer os outros clãs? Fora do Brado Guerreiro eu não sou muito benquisto, estranho.

O outro orc se levantou. — Mas você tem o respeito deles, e você terá o que oferecer. Espólios de guerra mais abundantes do que você jamais sonhou...

Eles saíram juntos para a luz cambiante da manhã, e um sorriso começou a se desenhar nos lábios do estranho.

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