sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Contos - Em Chamas Tudo Terminará - Starcraft Parte I



Por: Robert Brooks
Todos os tripulantes nas duas naves-mãe estavam condenados.

Rohana e suas irmãs estavam a trilhões de quilômetros de distância, mas elas compreenderam tão bem quanto as tripulações. Emoções fortes sobressaíam em meio ao caos. Desespero. Choque. Não era para aquilo acontecer. Não era possível. Não pode ser esse o nosso destino, gritavam os corações dos tripulantes. Rohana sentiu duramente as palavras.

A gravidade os puxava implacavelmente em direção à morte. Ela também sentiu isso.

O infortúnio das naves-mãe começou sem aviso. Um cristal khaydarin — a fonte principal de poder — se fraturou, desligando um dos propulsores da nave. Como a nave ainda não estava em órbita ao redor da estrela de nêutrons, começou a cair na direção dela. A outra nave-mãe tentou ancorá-la então. O comandante esperava que o empuxo conseguiria levar as duas naves para longe da estrela. Funcionou. Juntas, as naves se dirigiram para uma órbita segura.



Aqueles foram momentos de extrema intensidade. Orgulho. Júbilo. Os oito mil quatrocentos e sessenta e três tripulantes se uniram naquelas emoções, celebrando a engenhosidade e a valentia da segunda nave.

E então o impossível aconteceu.

O cristal da segunda nave-mãe também se apagou. Medo. Descrença. Dois cristais khaydarin falhando ao mesmo tempo era impensável! Eles eram criados com precisão infinitesimal. Em todos os milênios de exploração das estrelas os cristais dos Primogênitos só tinham falhado uma vez! Agora dois falhavam? Ao mesmo tempo? Em uma órbita descendente?

O Khala carregava essas emoções e mais. As grã-preservadoras testemunhavam todas.

"Nunca houve um desastre assim", observou Rohana.

"Uma tragédia única. Compete a nós compreender esse acidente", concordou Orlana, sua irmã mais velha.

"Acidente? Sabotagem, é mais provável", acrescentou Shantira, a irmã mais jovem.

"Em duas naves?", perguntou Orlana.

"Exatamente. Considere as probabilidades. Se acontece uma vez, pode ser acidente. Se acontece duas vezes, em sequência, pode ter sido intencional."

As três ficaram quietas. Eram as grã-preservadoras. As tripulações ainda não estavam mortas. As emoções deles revelariam a verdade. As irmãs mergulharam no Khala, inspecionando cada flutuação no fluxo. Não havia qualquer vestígio de satisfação sinistra entre a tripulação. Nem um traço de prazer. Todas as almas a bordo lutavam para sobreviver. Um sabotador certamente sentiria alguma coisa diferente dos demais.

"Não foi sabotagem", concluiu Shantira calmamente, curvando-se às provas.

A força cinética carregava as duas naves em direção à estrela de nêutrons. Determinação. Frustração. Não podia acabar assim. Não podia. Tinha que haver uma solução. As tripulações correram de um lado a outro por horas, desesperadamente. Tudo em vão. A gravidade era inclemente. As temperaturas começaram a subir quando a contenção de calor da nave foi sobrecarregada. As asas brilhavam com a radiação da estrela. Logo os escudos se desligariam e as tripulações estariam condenadas a uma morte agonizante.

Uma irrupção de novas emoções disparou por entre elas. Começou em um modulador e se espalhou pelo Khala como um incêndio. Horror. Desespero. O problema tinha sido descoberto: era um mero detalhe, uma imperfeição no modo como a energia em excesso era ventilada entre as asas das naves-mãe ao manobrarem em gravidade alta. Um pulso retornou ao cristal da nave, destruindo-o. Quando a segunda nave ancorou a primeira, o mesmo erro destruiu o seu cristal também.
Resultado de imagem para khala
Não fora sabotagem, mas uma circunstância com probabilidade de um para um bilhão na pior hora possível, na órbita de uma estrela de nêutrons não mapeada. Apenas ali, em tamanha fonte gravitacional, esses acontecimentos seriam fatais.

E não havia mais dúvida mesmo entre os mais esperançosos da tripulação: aquilo era fatal. Não havia outras naves protoss por perto. A rede de transdobra do império não chegava àquele sistema não mapeado. A estrela os destruiria a todos.

Raiva. Fúria. Irrompendo entres as tripulações. Muitos a bordo tinham sonhado com uma morte gloriosa no campo de batalha, não aquilo. Não um final sem significado causado por um acidente.

"Não há nada que possamos fazer?", perguntou Rohana. Sua área de experiência era militar, não física. Ela queria um consenso. Suas irmãs entenderam isso.

Shantira já estava fazendo cálculos, com o dedo traçando sinais no ar para ajudá-la a pensar. Finalmente baixou a mão e constatou: "Eles atravessaram o ponto sem retorno. Não há como escapar."

"Nenhuma chance", concordou Orlana. Ela vasculhava as emoções dos líderes da nave; eles haviam perdido a esperança.

A raiva durou apenas alguns instantes. Todos os protoss, não importava a casta, aprendiam a dominar as emoções em momentos de crise. Sem autocontrole, o Khala podia se tornar instável. Mesmo diante da morte certa, eles não abandonavam sua honra e tradições. Logo a raiva das tripulações se dissipou. Outra coisa veio substituir essa emoção.

"Aqui está." Os olhos de Rohana se abriram mais.

Ela olhou para as irmãs. Elas também tinham sentido.

"A emoção final", disse Orlana.

As irmãs identificaram-na antes mesmo que as tripulações o fizessem. As sementes dessa emoção pulsavam bem dentro do Khala, bem mais fundo do que os protoss costumavam ir. Poucos sequer tentariam ir tão fundo. O Khala não era perigoso, mas suas correntes eram poderosas. Nas profundezas, era difícil manter o foco e o equilíbrio para examinar cada nuance. Só as mentes mais poderosas conseguiam. A maioria das preservadoras falharia.

Era por isso que as três irmãs eram grã-preservadoras. Elas podiam sentir o que os outros não podiam.

E o que elas sentiam borbulhava nas profundezas, se espalhando pelas naves-mãe no tempo de algumas batidas do coração.
Resultado de imagem para aiur
Aceitação. A emoção final.

Se o destino decretava esse fim, então que fosse. A raiva era natural, mas tinha sido deixada de lado. A emoção final preencheu cada coração como uma maré se erguendo e o Khala os ergueu a todos, unindo seus espíritos. Milhares e milhares de almas aceitavam o fim juntas, e a canção de seus últimos instantes ressoou pelo cosmos.

Não eram apenas Rohana e suas irmãs quem ouviam. Outros em Aiur estavam se dando conta. Eles se juntaram, milhões deles, erguendo os espíritos em solidariedade. Logo, todas as castas de Aiur tinham se unido às naves-mãe e suas tripulações. O coro de glória se espalhou para outros planetas. Para outros sistemas. Por todo o império.

As tripulações condenadas sentiram os olhos de todos os Primogênitos sobre eles, e suas almas subiram mais alto ao se perderem em êxtase.


Continua...

Caro leitor caso tenha perdido alguma parte ou gostaria de continuar a ler, Clique Aqui e tenha uma boa leitura

Comente com o Facebook:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...